sexta-feira, 11 de abril de 2008

O vôo da Aguia

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Texto: Everardo Magalhães Castro, Rio 09 / 06 / 04


Gosto de ver os programas da Discovery na TV .

Vi um sobre a Águia. Ela no alto de penhasco junto com seus filhotes que , bicos abertos , manifestavam fome.

Breves considerações sobre a Águia :

Ave solitária .

Isolada no alto dos penhascos, tem vocação para as alturas.

O caminho da águia é o céu. É a rainha dos espaços.

Não voa em bandos.

Refugia-se no cume de uma montanha para , sozinha , enfrentar sua própria realidade.

Com suas possantes asas, sempre que divisa no horizonte nuvens

escuras, relâmpagos riscando o céu, agiganta os seus esforços e voa com intrepidez para as maiores alturas , pairando acima da tempestade, onde sobrevoa com perfeita bonança.

A águia produz em si mesma a renovação e, para isso, precisa de muita coragem. A primeira coisa que faz é interromper suas atividades.

Neste período isola-se , monasticamente, no alto dos penhascos.

Começa a arrancar suas penas velhas. Todas.

Seu corpo fica desfigurado, num estado deplorável. Depois de alguns dias começam a nascer penas novas, lindas e fortes.

Ganha nova aparência : torna-se bela, encantadora, deslumbrante.

Próximo passo é esfregar seu bico na rocha que , cheio de crosta, vai ficando fraco. Ela o esfrega sofregamente , até sangrar. Após este processo cresce um bico novo e duro como aço.

A última etapa é bater suas garras na rocha. E, o faz com força, várias vezes, até que a camada , envelhecida e calosa , seja arrancada.

É um processo de autoflagelação. Depois, as garras começam a brotar com toda pujança e vigor, fortes como o ferro, ficando completamente renovadas.

Após todo este processo de renovação revitalizadora ela está pronta para a luta pela vida. Para combater , vigiar e alimentar a sua prole. Renasce nela um certo ar de nobre arrogancia.

Voltando ao início deste texto, recordo que a águia estava junto com seus filhotes de bicos abertos , com fome.

Atenta e sensível a estes anseios , aponta seus grandes olhos para a planície em busca de uma presa que pode ser um coelho, uma preá, ave ou réptil qualquer. Ela tem missão a cumprir, e nisto é absolutamente determinada. A coisa é séria . Entra em campo.

Vai colocar em pratica duas armas vitais e mortais: seus percucientes olhos e suas poderosas e afiadas garras.

Os olhos de águias possuem um poder de resolução 2 a 3 vezes

maior do que o olho humano.

“ Esta diferença se deve, em primeiro lugar , à dimensão dos olhos, particularmente da câmara posterior ( espaço compreendido entre o cristalino e a retina ) resultando em uma ampliação da imagem focalizada na retina. Esta ave de rapina recebe bastante luz nas condições normais de caça. Caçando no vôo precisa de um bom julgamento de distância. Para isto possue uma segunda fóvea que pode ser usada em conjunção com o outro olho para fornecer uma excelente visão de profundidade.” Ver livro Vision in Vertebrates, de M. A . Ali e M.A. Kline, 1985 Plenum Press , New York

Subito, ela vê na planície um coelho dando seus acrobáticos saltos. Concentra-se. Faz cálculos, tão bons – quem sabe melhor - que qualquer computador. Fechando suas asas lança-se ao ar, em linha reta e alta velocidade , qual mortífera flecha. Alcança, com precisão , sua presa.

Depois alça vôo e , com firmeza nas garras , leva alimento para os seus filhotes.

O exemplo da águia nos faz lembrar da condição humana ,quando:

o medo de mudar pode prejudicar nosso futuro, não pela ausência de  possibilidades mas pela falta de coragem para romper com o passado.

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Inspirado no que vi , ouvi e li , resolvi fazer uma música com o

título O Vôo da Águia.

Tentei , espero que tenha conseguido, reproduzir musicalmente tudo que minha visão e percepção puderam alcançar.

Como compus a música :

No inicio procurei passar a idéia da águia no ninho com seus filhotes. Ela está atenta . Precisa caçar , os filhotes reclamam.

Vê a presa ------------------------------- ----( CD 1 m e 10 s )

Concentra e se lança em voo vertiginoso

( som dodecafonico e fuga )----------- ----( CD 1 m e 24 s )

Pega a presa -------------------- ----- -------( CD 1 m e 50 s )

Prepara o vôo de retorno ao ninho. Assunto complicado pois a presa é pesada e a águia não gosta de errar.

------------------------------------------------ ( CD 1 m e 58 s )

A melodia do voo , retornando ----------( CD 2 m e 36 s )

A melodia da festa da alimentação --- --( CD 3 m e 47 s )

A melodia da paz , missão cumprida.--- ( CD 4 m e 48 s )

Tempo total : 6 m e 55 s

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Lembrei-me do querido amigo Tom , que cantou a nossa mata , rios, fauna e pedras, com suas lindas melodias. Que fez lembrança e deu dignidade ao Urubu. Tom - ontem , hoje e amanhã, no Brasil e no mundo - o maior melodista de todos os tempos . A águia , nele vivia..... e vive.

Nossa bússola e quia, está presente cada vez mais na nossa vida, na alma de todos nós compositores.

E é para você , Tom , que eu dedico esta música.

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Meus agradecimentos ao casal Valdir e Fátima que , cientistas da UNB ( Universidade de Brasília ), me deram dados sobre a acuidade visual e comportamento das águias.

Agradeço também ao companheiro Élcio Leite , permanente pesquisador na Internet , que conseguiu para mim o pio da Águia.

Para o Chiquito Braga também , velho amigo, dedico este trabalho.

Tom , águia voando nas nuvens mais altas ; Chiquito , águia no violão , ..... e que se renova em cada amanhecer .

Mobilizei , espiritual e concretamente , estes queridos amigos.

Depois conversei algum tempo com meu coração,

que passou para minha silenciosa alma.

Da alma veio a inspiração que atingiu as minhas mãos .

Das mãos , no piano , nasceu o som .

Surgiu, então... a canção .

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