sábado, 29 de março de 2008

De Donato


Uns chamam de João. Outros, Donato.

A maioria, especialmente os músicos que o conheceram, desde sua chegada do Acre, chama Donato.

João Gilberto criou Donas. É assim que costumo chamá-lo.

Somos amigos há mais de 50 anos. Uma amizade sem turbulências, fraterna e de respeito.
Conheci Donato quando ele morava na Tijuca, na rua Taumaturgo de Azevedo, 99 apt. 302, transversal à Conde de Bonfim .

Em 1956 formamos um conjunto de jazz com Paulo Moura (sax alto), Bebeto Castilho (sax alto), Bill Horne (trompete), João Luiz (trombone), Tião Marinho ( contra-baixo ) eu , na bateria. Donato fazia os arranjos.

Dizia que eu era o guia ( melhores explicações com ele ).
Ensaiávamos freqüentemente, na casa dos pais do Paulo Moura ( R. Barão de Mesquita, quase esq. com General Roca ), ou na casa dos meus pais , na Avenida Edison Passos 872 - Alto da Boa Vista ( ver livro Chega de Saudade de Ruy Castro, pág.193 ). Eram freqüentes , também as jam- sessions.

E , de ensaio a ensaio, atingimos excelente nível. Predominava o jazz.
Dick Farney, querido amigo, teve forte influência junto a nós. Foi quem nos alimentou no jazz, com dscos e preciosas informações.

Ouvíamos muito jazz e nossa preferência era o West Coast da Califórnia onde despontavam Shorty Rogers, Chet Baker, Frank Rosolino, Gerry Mulligan, Jimmy Rowles, Shelly Manne, Bud Shank, Barney Kessel e outros.

O JAZZ entrou em cheio na cabeça do Donas , para nunca mais sair , sua verdadeira paixão musical.

Foi quando Donato chamou nossa atenção para Stan Kenton. Ficamos maravilhados com a orquestra e arrojados arranjos de Kenton, que passou a ser, no jazz , o ídolo maior. Sua orquestra era um verdadeiro butantã.
No repertorio de Kenton duas músicas ,dentre outras, especialmente nos fascinavam : Invitation e Artistry in Rhythm .

Gostávamos de fazer testes ( blindfold teste ). Naquela época era muito difícil adquirir disco ( vinil ) importado. Quando um de nós recebia, nas reuniões que realizávamos, colocava na vitrola e aí, cada um, com caneta e papel, ouvia e, no final da música, apontava o nome dos músicos que tocavam na faixa. Dificilmente errávamos!

Um dia Dick veio de São Paulo assistir uma apresentação do nosso conjunto no Clube Monte Líbano. Ficou encantado com a qualidade sonora e nos convidou para apresentação no Teatro Municipal de São Paulo.

Foi nosso último trabalho. Depois, por vários motivos, cada um seguiu seu caminho. Donato para os Estados Unidos. Bebeto para o Trio Tamba. João Luiz firmou-se na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Eu, para a Faculdade de Direito , deixando meu pai tranqüilo. Entrei na política , fui Deputado . Deixei de ser , para não mais voltar.

Passados muitos anos retornei novamente paraa música , retomando minhas composições.

Nascimento da Bossa Nova

Fim de semana atravessávamos o túnel que liga Botafogo a Copacabana e íamos tocar no bar do Hotel Plaza, na avenida Princesa Izabel. Juntava-se a nós a pequena e doce cantora Claudete Soares companheira e pioneira , e o sempre presente Ed Lincoln , no contra-baixo .

Naquela época, o túnel determinava uma linha divisória, preconceituosa. Do túnel, em direção à zona sul, ficavam os “bacanas”. Na zona norte, os “suburbanos”. Mas, era na zona norte que se concentrava o maior numero de bons instrumentistas, compositores , letristas.

Foi no Hotel Plaza que os músicos, vivendo na zona sul, captaram a levada dos professores João Donato e Johnny Alf , ambos com ricas harmonias. É aí que entra a verdadeira história da Bossa Nova e suas raízes.

A Bossa Nova nasceu na Tijuca do encontro de Johnny Alf (tijucano ) com João Donato ( tijucano ). Depois, João Gilberto, chegado da Bahia, encontra Donato, nascendo boa amizade e sintonia musical. João Gilberto, captando as avançadas e ricas harmonias e a levada de Donato, desenvolve uma técnica própria de interpretar e driblar os compassos. Nascia a Bossa Nova ( ver livro Cancioneiro , de Tom Jobim , pág. 67 ). Palavras do Tom: “-João Gilberto teria aprendido olhando João Donato tocar piano. Em pouco tempo a batida do João tornou-se um fetiche, e um desafio para os músicos em botões de Copacabana, Ipanema e adjacências”.

Donato foi peça fundamental nas raízes da Bossa Nova. Para mim, e muitos músicos , as colunas da taba da Bossa Nova foram: Johnny Alf + João Donato + João Gilberto + Tom Jobim. E , nesta ordem.

Depois, ficou , definitivamente , formatada e divulgada na zona sul , onde viviam jornalistas, interpretes e músicos mais próximos da midia. E, aí , muito justo, mérito para êles, especialmente Ronaldo Boscoli , Nara Leão , Menescal , depois irmãos Castro Neves , Lula Freire na casa ( Rua Toneleiros ) de quem todos passavam para tocar ou ouvir ,sempre com a participação de sua mãe Maria Helena que ,alem de conhecedora de música, a todos nos encantava, afinal ela era mais uma de nós . Considero uma grande falta a omissão do nome do Lula Freire , excelente letrista,e poeta da Bossa Nova, em recente documentário e outros eventos.

Outros poderiam ser citados , a lista seria longa. Até hoje muitos brasileiros e estrangeiros pensam que a Bossa Nova é coisa da zona sul ( Copacabana , Ipanema com suas praias , mar azul ou verde e a maior concentração de bares ) com seu charme e sexappeal, imbatíveis.
Entretanto, ainda vivem muitos músicos e pessoas que são testemunhas do que eu estou dizendo, inclusive o excelente compositor Durval Ferreira.

Recentemente, em entrevista dada a Revista Ícaro n◦ 254 de outubro de 2005, Durval declarou : “ A Bossa Nova não nasceu na zona sul, mas na Tijuca onde a gente aprendia harmonia com João Donato, que morava na Tijuca,assim como João Gilberto, Johnny Alf e todo o Trio Tamba. “ Os jornalistas José D. Raffaelli e Ilmar Carvalho grandes conhecedores de música , endossam este pensamento. Os saudosos jornalistas Sylvio Túlio Cardoso e Ary Vasconcelos testemunharam estes fatos. Da mesma forma o radialista Paulo Santos e Jorge Guinle .

Quando a Bossa Nova tomou prumo ,formatou-se e foi amplamente divulgada, Donato já tinha ido para os Estados Unidos em busca do jazz.

A Bossa Nova era pouco para Donato. Foi procurar outros caminhos, um espaço novo, mais abrangente. Nos Estados Unidos, encontrou seu amado jazz em descendência. Aproximou-se, então, dos cubanos que lá viviam. Criou uma nova levada, um novo estilo, que permanece até hoje. Johnny Alf , por seu lado , buscou novas veredas.

Para Tom, nosso soberano compositor e bom amigo, a mesma coisa: novos rumos, novos cenários. Pois, apesar de sua forte participação na Bossa Nova, ela não deveria, nem poderia, ser o limite do seu trabalho.

Cabe lembrar que, nos encontros que eu tinha com Tom, especialmente quando fazíamos sauna na Rua Prudente de Morais , Ipanema, ele sempre revelava sua estima e admiração pela criatividade de Donato.

Há um episódio que vou relatar. Tom, sabendo de certa dificuldade financeira de Donato, deixou de participar num trabalho importante e ótima remuneração, para colocar o amigo. Tom fez isso de maneira carinhosa e elegante. Sabendo, também que nenhum outro o substituiria melhor.
Donato, na música clássica, tinha suas preferências : Ravel e Debussy.

É oportuno lembrar que, vários compositores da nossa geração, manifestavam idêntica preferência, sendo que Tom abriu para Villa Lobos e outros. E, para estudo e inspiração, na fauna e flora brasileira.

Na minha opinião os dois gigantes da nossa geração são: Tom Jobim e João Donato. Os dois, bons instrumentistas , arranjadores e magníficos melodistas. E, Tom , letrista muito bom. De tanto falarmos de Tom compositor , esquecemos , algumas vezes,do letrista . E , aí, é só lembrar das letras de Luiza, Ligia, Aguas de Março, Ana Luiza,Passarim ,Gabriela, Chansong,...

Tom, com músicas elaboradas. Donato, com melodias cheias de magia, encanto, riqueza harmônica e improvisação infernal !

Eles nunca pararam de compor , e sempre lindo.

E aí pode botar Bossa Nova e tudo e muito mais , aqui e além- mar.

Alguns músicos e críticos musicais , brasileiros e estrangeiros , no que me incluo, consideram que os caminhos de Tom recordam os de Gershwin e Donato os de Cole Porter. Mas, falando ainda de Tom, estou esboçando um texto onde sustento que ele foi o maior melodista de todos os tempos , incluindo os compositores clássicos . Com 234 melodias ( contadas por mim no livro Cancioneiro Jobim - editado pela Jobim Music, pág. 444 ) todas lindas, ele atingiu um numero espetacular. Vários Compositores , brasileiros e estrangeiros não tem , de uma maneira geral, mais de 30 melodias bonitas e de absoluto encanto. Nesta visão incluo o meu, o nosso , maravilhoso Cole Porter.

Vale lembrar que Claus Oguerman, famoso arranjador ,em entrevista publicada no jornal O Globo,disse que considerava Tom o maior compositor do século XX.
Obviamente , longe de mim, pretender convencer ou polemizar.
É apenas ,e tão apenas, uma opinião que não é solitária , uma vez que outras pessoas pensam assim.

O som do piano de Donato

Mas, onde Donato também se destaca, é na sonoridade que tira do piano, absolutamente ímpar !
Para mim e muitos amantes da música, o som do piano de Donato é um dos mais bonitos dos últimos tempos. Ele não tem a técnica dos exímios pianistas. Entretanto, a sonoridade de seu piano é, simplesmente, encantadora.

Utiliza as recomendações do grande músico americano Chick Corea: "Use contrastes e equilibre os elementos. Agudo e grave , rápido e lento, forte e suave, tenso e relaxado, denso e esparso".
Amazonas : Um Poema Sinfonico


Parceiros e musicalmente identificados, produzimos , em parceria musical uma sinfonia com o título Amazonas: Um Poema Sinfônico. Ele compondo alguns movimentos e eu outros.
Filho da amazônia, e eu, neto de amazonense, nos embrenhamos na selva para buscar inspirações e produzir nossa sinfonia.

Nesta obra, em Donato, está a influência de Ravel e Debussy. Em mim a inspiração nos melodistas russos, do grupo dos cinco, especialmente Mussorgsky
e Glinka , cabendo lembrar que Mussorgsky influenciou Ravel e Debussy.

Voltando ao som do piano de Donato, desejo registrar a seguinte passagem: durante algum tempo fiquei olhando suas mãos no piano, e via que tocava com elas espalmadas, quando a técnica recomenda que seja em forma de garra, com os dedos curvados. Observei a maneira de usar os pedais. Isto e mais outras coisas não foram suficientes para entender como ele tirava som tão bonito.

Até que um dia... até quem sabe... percebi que não estava vendo o que só se pode sentir, que não se pode ver : o som vem da sua alma. E, ainda que tardiamente, entendi que o som de Donato vem do seu mais profundo interior
“........ o essencial é invisível.....”
Entra na cabeça , passa para o coração, se espalha no seu corpo, e do coração chega as suas mãos. Das mãos nasce o som e a canção.

De Donato, humano, registro um lado de grande significação que várias vezes testemunhei. Ele é humilde com os humildes e pára a fim de conversar com os mendigos.

Recentemente, depois de comermos umas proteínas (é assim que ele fala quando jantamos) viu um mendigo na calçada da rua Dias Ferreira – Leblon, e começou a conversar durante longo tempo com ele. Fazia frio. O mendigo estava sem agasalho. Donato virou-se para mim: “precisamos comprar urgentemente cobertor para ele”. Ficou ansioso até resolvermos o assunto, acompanhado de algum dinheiro.

Depois me disse: “Everardo, eu gosto de conversar com os humildes, os mendigos, o povão. Daí eu tiro as minhas inspirações”. Lembrei Mussorgsky, grande compositor russo, meu ídolo na música clássica, que tinha igual motivação. Falou : “ estamos em boa companhia... na raia ”

Um novo horizonte

Alguns anos atrás, Donato viveu tempo de intensa melancolia. Trancava-se em seu apartamento na Gávea. Não atendia telefone, inclusive internacionais ( Uma única vez eu vi , naquela época , falar ao telefone. Era Horace Silver, lendário pianista de Jazz. Ficaram quase uma hora alegremente conversando, e... ligação internacional).

Não fazia trabalhos. Eu ia ao seu apartamento , na Gávea, e ficava triste de vê-lo em depressão. Foi quando o nosso querido Almir Chediak, junto com Sônia Sirimarco, sua então competente e dedicada produtora, promoveram a edição do CD Café com Pão, uma parceria de Donato com o sempre amigo Eloir.

Eloir, intrépido baterista, com “ mensagens sentimentais “ nos pratos e caixa é o preto velho e guru de Donato.

Eloir, figura mítica no meio musical, muito querido por todos nós. Daí para frente as coisas começaram a mudar. Surge, então, um novo amor na sua vida. Fazendo show em Brasília vê na platéia uma moça bonita e encantadora, de olhar cintilante.

Olha para ela , só vê ela e, para ela , toca seu piano com grande inspiração (palavras dele).
Nascia uma nova história, um novo horizonte, um novo som.

Mulher inteligente , Peter Pan de sonhos , mas plantada no chão , dá o tom . Surgem bonitos acordes na estrada dele.

Voltou à Bíblia , portando-a e anotando trechos, para ele mais especiais. Deu- se o maior encontro de toda sua vida : Jesus.

Anos antes , com ajuda de Tita e Edison , já tinha procurado Jesus. Mas, depois, o abandonou . E , aí , tudo desafinou, quebrando a harmonia de sua vida.

Em Brasília fortalece amizade com Heitor Reis, que o coloca em contato com o mundo político e o Clube do Choro , onde desponta o Reco.

Donato, então, entra na ponte aérea Rio – Brasília.

As viagens internacionais se sucedem: Japão, Rússia, Cuba.


Seu mais recente trabalho

Quando morou nos Estados Unidos tocou com alguns músicos da orquestra de Stan Kenton e identificou-se com um dos seus integrantes : Bud Shank , inspirado sax-alto do cool-jazz.

Passados quarenta anos, tocaram juntos, em maio, no Chivas Festival. Foi iniciativa do correto e competente jornalista Antônio Carlos Miguel, do Segundo Caderno do jornal O Globo, com apoio do Raffaelli.

A emoção do encontro foi tão especial que resolveram gravar um CD em duo. Durante a gravação deixaram rolar, através de lindos improvisos, todas veredas de vida que cursaram nos últimos anos. Momento de magia e enlevo.

Conversaram, sem precisar falar, e viajaram através da música. Donato, com suas ricas harmonias , quase levou à loucura o já idoso / jovem Bud, ícone do Jazz. Testemunharam, este momento, Ed Mota, Antonio Carlos e Glauber Amaral .

Depois da gravação, pediu-me para, junto com ele, fazer a mixagem e
um estudo de edição. Ficamos um domingo inteiro trabalhando com a maior atenção. Ele é craque em mixagem , mas não tem paciência. Começa a contar historias , algumas bem engraçadas e , às vezes , até a dançar e , claro , ritmo é com ele. Desta vez concentrou-se. Era cousa séria. Buscamos o equilíbrio, a intensidade e pulsação certa de cada instrumento. Fizemos a edição. Há faixas de até 20 minutos.

Terminada a mixagem, fomos comer umas proteínas (jantar). Perguntei qual a música dele que mais gostava. Prontamente respondeu: Lugar comum.

Aí, então, duas surpresas: uma comigo mesmo por, durante tantos anos, nunca ter feito esta pergunta; a outra porque imaginava que ele fosse dizer Brisa do mar. Talvez porque seja , para mim , a melodia dele número um.

Das várias e boas parcerias com letristas minha letra preferida é Até quem sabe do seu irmão, meu amigo e parceiro, o ótimo letrista Lysias Enio. Acredito, que seja a de Donato também. Alem de perfeita e tocante ela , a meu ver , suscita um momento da vida de Donas e de cada um de nós.

Como estou fazendo uma pequena história, recordei-me que conhecendo, desde os meus quinze anos de idade, Pixinguinha, amigo dos meus pais, foi somente trinta anos depois- indo a casa dele em Olaria - que perguntei qual a música que mais gostava da sua obra. Outra surpresa.

Imaginava que fosse dizer Carinhoso ou Lamento. Pixinguinha nem pensou. Respondeu:Ingênuo.
E, seguindo estas lembranças , freqüentando, quase toda sexta-feira, a casa de Jacob do Bandolim, em Jacarepaguá, onde ele promovia ótimos saraus, com a presença da nata da MPB, perguntei a Jacob qual a música que mais gostava de tocar. De pronto, respondeu: Lamento. E, aí, autorizou que eu gravasse a música que iria interpretar, Lamento. Fez uma pequena introdução dizendo que dedicaria a mim e ao Sergio Cabral a execução desta bela canção.

Surpreendi-me, porque ele não deixava que ninguém gravasse nos seus saraus.

Um mês depois, Jacob partiu para o cosmo deixando uma imensa saudade em todos nós , seus amigos e admiradores . Foi encontrar Pixinguinha e outros companheiros.

Gravei. Perdi a fita cassete. Tenho esperança de um dia encontrá-la.

Foi na casa de Jacob que conheci a elegante, deslumbrante, maravilhosa e absoluta Rainha do reino das cantoras, a divina Eliseth Cardoso.

O som que vem da alma , Lai

Voltando ao som que nasce da alma de Donato, já referido, penso que vem de Lai, sua mãe, a grande fonte do seu som.

Ele é muito parecido com a mãe. A maneira de ser, sentir ,calar e observar. A mirada percuciente e aguda de ver. Muito inteligente e aparentemente desligado. Uma cousa é bastante interessante : ele faz um show onde se mexe e se agita , deixa a criança que tem dentro dele voar . Depois vamos jantar e muda sua levada. Capaz de conversar como se estivesse tratando de assuntos sérios. É um outro Donato. Quem visse imaginaria dois senhores compenetrados cuidando de temas nacionais e internacionais.

Seu passo é lento, como o da mãe, e os mesmos olhos de índio flechador. Donato é um índio flechador.

Lai, mulher da mata e dos igarapés, muito terna e mística. Doce e de olhar profundo. Passou para ele , durante sua gestação, um ser que, desde a sua concepção, foi lentamente absorvendo o sangue e alma da mãe. A levada de Donato é a levada de Lai


Poderia escrever bem mais. Motivos não faltariam. Quem sabe , um dia , ainda irei fazer.

É esta a pequena história sobre o querido amigo e parceiro. E acabou virando um pouco da minha vida , em alguns e bons momentos , partilhada com Donas.

Uma história de emoções , idas e vindas , manhãs e madrugadas, caminhos e sonhos .....
É, também , a minha saudade e homenagem a Lai, grande árvore e protetora sombra na sua vida.

Em tempo : em 2004 ele me pediu que escrevesse um livro sobre a vida dêle. Gostei do convite mas ponderei que seriam mais indicados Ruy Castro ou Sergio Cabral , dois excelentes escritores especializados na cultura musical e biografias. Lembrei também seu irmão e parceiro Lysias Enio e Antonio Carlos Miguel. Donato disse que Lysias está escrevendo um livro sobre a família .
Fica então a lembrança dos outros nomes.

Já fiz algumas anotações... Mas, ainda espero, que um deles parta na frente.

“ O ano de 2004 foi de especial importância para a MPB . No dia 17 de agosto , João Donato completou 70 anos de idade e 55 de carreira.

Everardo Magalhães Castro

Rio de Janeiro , 24 de dezembro de 2004


 

Comentário de Paulo Alberto ( Artur da Tavola ), ao texto De DONATO , acima apresentado .

 

"Ever :

Interessantíssimo o João Donato. Continue. Ouviu bem? Continue Já arquivei e acabando uma série de rádio que estou a fazer sobre o Carnaval carioca, vou fazer um belo programa com obras dele e peço licença para citar seu texto."

Grato

Paulo Alberto

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